sábado, 28 de agosto de 2010

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.
Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar!

Martha Medeiros

Sentir-se amado

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?
Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

Martha Medeiros

terça-feira, 3 de agosto de 2010


Como eu queria ter um mundo só meu, minhas responsabilidades, meu dinheiro, meus móveis, minha independência, meu viver. Eu fico imaginando como seria tudo mais fácil se eu não tivesse que obedecer ordens, eu não precisaria esconder nada de ninguém e nem deixar as minhas coisas em ordem todo dia. Poderia dormir até a hora que eu bem entendesse, me achar na minha bagunça, colocar o som ao nível de estourar minhas caixas de som, gritar quando eu quisesse, trazer desconhecidos na minha casa, e muito mais. Mas voltando a realidade.. tenho que viver sobre ordens. Tudo bem, na minha idade todo mundo passa por isso, mas precisa ser tão rigoroso? Queria ser mais livre, poder fazer o que eu vejo os outros fazendo, descolorir meu cabelo e pintar de azul, colocar piercing na boca, na língua, no nariz, na orelha, tatuar o braço inteiro, jogar minhas roupas fora e comprar outras novas.. Ta bom Taís, agora sim, volte para a realidade! Fazer o básico de toda adolescente então, festas, diversão, beijar na boca, rir de bobagens ridículas, passar vergonha na rua, ser retirada da sala de aula, brigar com professores.. Nossa, que sonho! Claro que já fiz vários desses objetivos, mas não sentindo a adrenalina de ser livre e não me preocupar. Sempre há uma varinha me cutucando, e minha consciência sempre escuta! Incrível. Mas tudo bem, quem sou eu pra duvidar da vida? Quem sabe um dia eu faço isso com 40 anos nas costas, pelo menos serei livre não é? O que me resta é sentar e esperar sonhando, não os 40 anos, mas a minha justa liberdade.
O relógio não pára. O mundo gira contra você. E a cada nascer do sol deve-se correr contra o tempo tentando deixar tudo perfeito e incomparável. Me vejo como a maior inimiga dos minutos, mas também a que mais depende dele. É insuportável o fato de ter de olhar para o relógio a cada segundo e cronometrar o tempo certo para cada detalhe vivido. Nossa, vontade de gritar pro mundo inteiro: 'DANE-SE O TEMPO, O PERFEITO, A COMPARAÇÃO, OS SEGUNDOS, MINUTOS, HORAS! DANE-SE O MUNDO!' Eu só quero viver pelo menos 24 horas da minha vida tranquila, sem me preocupar com o que eu tenho pra fazer. Mas vai chegar nas 23 horas e 59 segundos, e eu vou olhar para o relógio e dizer: 'o tempo acabou.' E lá aparece o tal tempo de novo. Uma opnião: que tal destruirmos todos os relógios existentes no mundo? PARA TUDO! Que ideia brilhante! Agora pense, um mundo no qual o tempo não existe, não teria como irmos para escola.. então não teríamos grandes cientistas e nem nossa tecnologia. Não teríamos trabalhadores, comeríamos o que? E vida? Não precisamos de médicos especializados e remédios feitos pelo homem que poderia estar doente por falta de médico? Pensando melhor.. que ideia horrenda! Então voltamos ao início do meu pensamento.. O relógio não pára, não pode parar! Mesmo odiando tudo isso eu preciso viver nesse mundo cronometrado, quem sabe um dia eu consigo ter minhas 24 horas tranquilas? É, elas irão acabar.. Mas eu não saberia viver num mundo que o tempo não existisse. Mal sei viver nesse, mal consigo enxergar uma simples equação matemática que se baseia no tempo, mal consigo chegar nos lugares no tempo certo, mal consigo expressar minhas vontades porque preciso de tempo para todas elas. Sinceramente, posso ter digitado tudo isso por nada, mas veja, eu fiz você enxergar o mundo de uma forma mais fácil, com o tempo. Mas agora preciso ir.. Meu tempo acabou.